Descoberta remonta período cretáceo, entre 70 e 80 milhões de anos
Um ano após encontrar fósseis de aves e répteis do período cretáceo, o paleontólogo Willian Roberto Nava anunciou, desta vez, novas descobertas do sítio paleontológico localizado no bairro São João, região sudoeste de Presidente Prudente. Recentemente, o local foi tombado e cercado visando sua preservação.
Segundo o pesquisador, trata-se de uma ninhada de ovos fossilizados da época dos dinossauros. São cerca de 20 ovos que podem ser de crocodilos que conviveram com os dinossauros no período cretáceo, entre 70 e 80 milhões de anos atrás.
Também foi encontrado um ovo que pode ser de um terópode, pequeno dinossauro carnívoro. “É uma descoberta importante e rara, uma vez que ovos fossilizados são difíceis de preservar, devido à sua estrutura frágil”, explicou Nava, acompanhado da estudante de geologia Giovana Paixão, que também é assistente nas atividades de campo.
Nava realiza escavações no local desde 2004, onde já extraiu mais de 2 mil fragmentos, muitos dos quais estão expostos no Museu de Paleontologia de Marília.
De acordo com ele, os ovos, medindo entre seis e oito centímetros, estavam muito próximos um do outro, caracterizando a ninhada, possivelmente, de um crocodilomorfo, um réptil ancestral. Já um ovo um pouco maior pode ser do dinossauro carnívoro. “Ainda dependemos de análise desse material em lâmina [microscópio] para confirmar, mas ovos fossilizados de dinossauros ainda não tinham sido encontrados no Estado de São Paulo”, frisou.
Como a maioria dos ovos está intacta, o paleontólogo explica que a dedução é que foram soterrados rapidamente. “Se acontecia algum evento de inundação ou desbarrancamento, os ovos eram sepultados, impedindo o nascimento o dos filhotes” contou Nava.
Algo raríssimo
Segundo o paleontólogo, o encontro de ninhadas é “raríssimo”, sem precedentes no Brasil. “Sabemos de ovos de crocodilomorfos achados em Monte Alto (SP), associados ao Baurusuchus, mas nunca mais do que quatro ou cinco. Aqui temos entre 20 e 22, o que merece um estudo mais cauteloso”.
Na época, segundo ele, a região era quente e árida, com rios entremeados e, provavelmente, os crocodilomorfos faziam a postura em buracos na areia ou eles mesmos cavavam um buraco para pôr os ovos à beira da água. “Pode ter havido um soterramento que encobriu a ninhada, mantendo os ovos intactos”, afirmou.
Os ovos foram levados para o Museu de Paleontologia de Marília, do qual Nava é o curador. Ele conta que o material será analisado nos laboratórios da Universidade de Brasília (UnB) por uma equipe de especialistas como o paleontólogo Rodrigo Santucci, da UnB e da Sociedade Brasileira de Paleontologia, e o argentino Agustin Martinelli, do Museu de Ciências Naturais de Buenos Aires.
Para a identificação, fragmentos da casca são submetidos a análises microscópicas que medem a presença de carbonatos e outros minerais. O estudo pode indicar a possível presença de um embrião no interior dos ovos, o que facilitaria determinar a espécie do animal que o produziu.
“Em agosto do ano passado, a meu pedido, a Prefeitura de Presidente Prudente mandou cercar o terreno com alambrado para proteger o sítio paleontológico. Na abertura dos buracos para sustentar a cerca, apareceram algumas cascas de ovos fossilizados. Isso nos deixa a impressão de que temos muito material ainda enterrado nesse local”. (Com Estadão e Jornal da Manhã de Marília)
Fonte: portalprudentino