O avanço da Covid-19 recrutou até o espaço que era destinado às crianças em uma unidade de saúde de Marília. Pacientes com sintomas graves, alguns deles já intubados, esperam por um leito hospitalar em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em uma sala que acaba de ser adaptada no Pronto Atendimento (PA) da zona Sul .
O local funcionava como uma sala de observação para crianças. A pediatria recebia urgências de baixa complexidade, como pequenos que caíam em brincadeiras e vítimas de pequenos acidentes domésticos.
A decoração infantil na parede chama a atenção para o empenho da equipe em humanizar a assistência oferecida no local. Porém, como retrato de uma pandemia, os adesivos que ficaram no ambiente mostram como o sistema de saúde ficou perigosamente pressionado.
No lugar dos leitos simples, para rápida permanência, há macas equipadas com respiradores. Pacientes que já deveriam estar em uma UTI em Marília ou região aguardam, sem expectativas, uma vaga.
Conforme mostrou o Marília Notícia, na tarde de ontem (24) o PA Sul tinha 11 pacientes que já deveriam ter sido transferidos. Entre eles, quatro intubados.
O prefeito Daniel Alonso (PSDB) e o secretário municipal da Saúde, Cassio Luiz Pinto Junior, anunciaram a instalação de 10 leitos temporários de apoio, em unidades de pronto atendimento da cidade. O município ainda busca alternativas para ampliar leitos de enfermaria e UTI.
O secretário da Saúde comentou ainda a intenção de montar uma enfermaria para casos de Covid-19 com 20 leitos, na Unidade Saúde da Família (USF) Maracá, na zona Norte.
“Não é novidade para ninguém que temos experimentado, há dois meses, uma taxa de ocupação muito alta. E como ocorreu em outras regiões, em todo o Estado, aconteceu o colapso da rede, ou seja, a ocupação plena de leitos de UTI”, disse Cassio.
Sem disponibilidade de leitos para transferência, fatalmente pacientes permanecerão em espera prologada nas unidades de pronto atendimento. A estratégia é melhorar as condições nestes locais, para reduzir agravamento e óbitos, até que a vaga seja liberada.
Os 10 novos leitos de apoio já estão funcionando, parte deles na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) localizada na zona Norte, e outra parte no Pronto Atendimento (PA) da região Sul – onde a pediatria também foi ocupada.
Zona Norte
Na UPA, a administração do serviço, feito pela Unimar, instalou esta semana seis leitos de apoio. O alívio inicial já foi praticamente neutralizado. Na tarde desta quarta-feira (24) eram 19 pessoas à espera de transferência, sendo que seis já estavam entubadas.
A unidade também transformou uma sala de observação, que antes recebia pacientes de patologias diversas, em ala específica para casos suspeitos de Covid-19.
Zona Sul
No PA administrado pela Secretaria Municipal da Saúde foram instalados, nesta quarta-feira (24), mais quatro leitos de apoio. O local já contava com quatro vagas em enfermarias e duas em emergência, para casos mais graves.
A direção da unidade informou, na mesma data, a falta de vaga para seis pessoas que já deveriam estar em UTIs. Quatro delas foram intubadas no próprio PA. Outras cinco esperavam leitos de enfermaria em hospitais de Marília ou região.
Maracá e HBU
O secretário da Saúde, com equipe técnica, deve visitar na manhã desta quinta-feira (25) o Hospital Beneficente da Unimar (HBU), para verificar uma ala que está com atendimento suspenso, em função da pandemia, e poderá receber leitos clínicos.
Nesta semana uma equipe da coordenação de urgência e emergência da cidade já esteve na USF Maracá para analisar a viabilidade de instalar 20 leitos de enfermaria.
Atualmente o local, inaugurado no ano passado, é o prédio da atenção básica mais amplo do município e já é referência para consultas a pacientes com suspeita de Covid-19.
Embora tenha sido construído para até três equipes de Saúde da Família, conta com uma equipe atualmente. As atividades de atenção básica seriam realocadas temporariamente, para que o prédio possa funcionar como um mini hospital.
Mais UTIs
Durante reunião ontem do Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus, o Hospital das Clinicas (HC) de Marília, que já trabalha com 40 leitos de UTI via SUS, sinalizou a possibilidade de abrir mais 10.
Além da falta de equipamentos, o principal empecilho é a falta de mão de obra disponível.
Gestores de saúde de diferentes hospitais relataram que além de dificuldades para contratar (por esgotamento de especialistas no mercado), também enfrentam a resistência de trabalhadores que atuam em outras áreas, quando solicitadas transferência para alas Covid.