Medicamentos para UTI podem faltar no auge da pandemia em Marília

Os hospitais de Marília já começam a relatar problemas com o abastecimento de medicamento usado para intubação de pacientes com Covid-19. O receio de faltar oxigênio também existe.

O problema ocorre em nível nacional e por aqui não é diferente. Esta semana, o Hospital Beneficente Unimar (HBU) quase ficou sem medicações para intubar pacientes e só não sofreu com a falta do insumo porque emprestou doses do Hospital das Clínicas.

“A questão dos kits para intubação é a mais crítica, o que mais preocupa a gente. Nós estávamos com o estoque até hoje (19), mas graças a Deus o HC emprestou mil ampolas pra gente ontem. Com esse novo estoque conseguimos trabalhar por sete dias”, explicou a superintendente da instituição, Márcia Mesquita Serva.

Segundo a gestora, o hospital deveria ter recebido uma entrega de quatro mil ampolas de um medicamento específico na última sexta-feira (12), no entanto, o fornecedor não cumpriu o contrato.

“Nosso fornecedor, que tinha que ter entregado quatro mil ampolas na sexta-feira passada, não entregou, foi por isso que a gente viveu uma semana de caos, com medo de não conseguir o medicamento. Vamos sobreviver com esse empréstimo do HC até chegarem os nossos. A promessa é para chegar na quarta-feira (24)”, disse Márcia.

Caos no Brasil

Diante do iminente colapso em todo país, o Ministério da Saúde requisitou os estoques da indústria, como sedativos, anestésicos e bloqueadores musculares. Segundo a pasta, a ordem de entrega dos fármacos foi feita na quarta-feira (17) e deve suprir a demanda do Sistema Único de Saúde (SUS) por 15 dias.

O presidente do Grupo FarmaBrasil, que representa a indústria nacional de medicamentos, Reginaldo Arcuri, afirma que não há falta de produção. Ele diz que a indústria precisa receber demanda “clara e organizada” do Governo Federal.

“O grande problema é que os hospitais demandam a sua necessidade para ser entregue tudo de uma vez. Ou querem, por razões até justificadas, fazer um estoque. Você não consegue atender todos os pedidos em período curto. O que precisa é articular”, disse.

Já o presidente do Sindusfarma, Nelson Mussolini, reconheceu que o uso dos produtos está acima “de qualquer estimativa”. Ele afirmou que a indústria “está trabalhando para atender as necessidades” do país.

Serva afirmou ao Marília Notícia que “os fornecedores não estão conseguindo cumprir os contratos”.

“Você compra, paga, o preço é inclusive muito mais caro do que se pagava, e de repente, no dia da entrega eles te avisam que não vão entregar. Esse é um grande desafio, é a maior preocupação nos hospitais hoje”, completa.

A superintendente disse ao Marília Notícia que a instituição ainda não registrou problemas com fornecimento de oxigênio, mas que o medo da falta existe.

“Estamos monitorando isso todo dia. A gente tem abastecimento de oxigênio dia sim, dia não, porque estamos usando o dobro do nosso consumo normal. Eu vivo um dia de cada vez. Morro de medo de chegar um dia e eles não vierem abastecer. Mas estamos monitorando isso com nosso fornecedor, por enquanto está tudo garantido”, finalizou.

Entidades cobram Bolsonaro

A Frente Nacional de Prefeitos (FNP) enviou ofício ao presidente Jair Bolsonaro e ao Ministério da Saúde pedindo providências imediatas para suprir a escassez de oxigênio envasado e medicamentos para sedação de pacientes intubados.

“Não é razoável que pessoas, cidadãos brasileiros, sejam levados à desesperadora morte por ‘afogamento’ no seco, ou que sejam amarrados e mantenham a consciência durante o delicado e doloroso processo de intubação e depois na sua longa permanência”, escreve a FNP.

Secretário-executivo do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Mauro Junqueira afirma que a alta de casos “voltou a trazer risco” de falta do produto. Ele afirma que o Ministério fez entrega de medicamentos no fim de semana para garantir o uso em hospitais por 20 dias. “Pedimos para suspender cirurgias eletivas, para que não haja concorrência por estes medicamentos”, disse.

O Conselho Federal de Farmácia (CFF) manifestou em, nota, “extrema preocupação a falta de medicamentos essenciais à qualidade da assistência e a manutenção da vida de pacientes em estado grave”.

O presidente do Conasems, Wilames Freire, disse que o órgão pediu ao Ministério que acione a Organização Panamericana da Saúde (Opas), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) no continente, para a facilitar a importação dos remédios. “Estamos em uma situação que está se agravando a cada momento”, afirmou.

A pasta da Saúde está em um momento de troca de comando, com a saída do general Eduardo Pazuello, cuja atuação foi alvo de crítica de especialistas, e a chegada do cardiologista Marcelo Queiroga.

A Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), em reunião nesta quinta-feira (18), com a Anvisa e outras entidades representativas do setor, também cobrou o governo Bolsonaro.

A entidade fez uma pesquisa entre seus associados que indicou baixa dos estoques. Alguns medicamentos têm reserva de apenas cinco dias, em média, como é o caso do propofol, artracúrio e cisatracurio. Segundo a Anahp, a Anvisa se comprometeu em facilitar processos como medida emergencial, além de revisar resoluções que dizem respeito à importação dos medicamentos.

Outra entidade que cobrou a intervenção de Bolsonaro foi a Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB).

“Agora, chegarmos ao ponto de corrermos o risco de perder vidas por falta de anestésicos e sedativos, por não conseguirmos dar as condições mínimas de trabalho às equipes médicas no cumprimento dos protocolos de internação das UTI’s”, diz trecho de ofício enviado ao Ministério da Saúde.

Santa Casa

A assessoria de imprensa da Santa Casa de Marília informou que a instituição não registrou desabastecimento de medicamento para intubação ou oxigênio até o momento.

De acordo com o informado ao Marília Notícia, devido ao cenário nacional, e após reunião com o Comitê de Enfrentamento à Covid-19 em Marília nesta sexta-feira (19), houve a decisão de suspender as cirurgias eletivas. Só serão mantidas as de urgência e emergência, e as oncológicas.

Conforme o hospital, todas as medidas estão sendo tomadas e é mantido constante contato com fornecedores para garantir o abastecimento.

Secretaria da Saúde

O secretário da Saúde de Marília, Cássio Luiz Pinto Junior, confirmou à reportagem que a situação com os remédios para a intubação é grave e que o mesmo ocorre com o oxigênio.

“Com relação a remédios para intubação não é novidade, realmente a situação é grave. […] Com relação a gases o sistema de fornecimento começa a dar sinais de dificuldade, de esgotamento. Na rede pública nós também utilizamos gases, o oxigênio, tanto no PA, como nas unidades, e estamos trabalhando bastante essa questão para tentar auxiliar também os hospitais com todas essas questões”, afirmou o secretário.

Vale ressaltar que a Prefeitura depende em inúmeras questões do Governo Federal.

Hospital das Clínicas

O Hospital das Clínicas também foi questionado pelo site. Em nota a instituição estadual afirmou que “até o momento não corre risco de desabastecimento de medicamentos ou de oxigênio”.

“Em relação ao oxigênio, a capacidade física de armazenamento é de seis dias e o abastecimento ocorre a cada três dias, sem notificação do fornecedor de possível falta no momento. Em relação aos medicamentos, o estoque do chamado kit de intubação está dentro do previsto para atender a demanda. Novos pedidos de compra dos medicamentos já foram realizados para manter o abastecimento adequado. Não é possível, entretanto, prever o cumprimento de prazos de entrega dos fornecedores, mas até o momento não houve notificação de atrasos. Por não haver falta de oxigênio, não há necessidade ainda de suspensão de qualquer tipo de assistência”, informou o comunicado.

Fonte: marilianoticias