Agência UEL
Parceria inédita entre o maior produtor da planta rosa do deserto do país e pesquisadores da UEL permite avanços rumo ao acúmulo de informações e dados científicos sobre a planta. A iniciativa rendeu nos últimos oito anos publicação de uma série de artigos, com resultados produtivos sobre cultivo, adubação e manutenção da flor, originária da Tailândia e países do sul da África, que ganha cada vez mais espaço no mercado de plantas ornamentais.
As pesquisas são desenvolvidas por alunos da graduação e do programa de pós-graduação em Agronomia (mestrado e doutorado), do Cento de Ciências Agrárias (CCA), no Laboratório de Fitotecnia. Na avaliação dos pesquisadores, a parceria com o produtor Sandro Takemura, que atua no distrito da Warta, localizado em Londrina, só trouxe benefícios. O resultado é que hoje o local serve de campo de estudo para as pesquisas, portanto, reforçando a integração ente a UEL e o mercado produtivo.
Flor – Como o nome sugere, a rosa do deserto é de regiões quentes e secas. Portanto, para sobreviver em regiões de altas temperaturas, ela armazena água no caudex, sendo este diferente em todas elas. Segundo o professor Ricardo Tadeu de Faria, do Departamento de Agronomia, a planta que lembra um bonsai, chama atenção pela grande diversidade de cores das flores, desde as mais comuns na cor rosa até as mais exóticas na cor preta. Não existe, segundo ele, nenhuma planta igual, quando propagada por sementes.
Com diversidade e beleza associadas às flores e ao caule (caudex), que possui finalidade de armazenamento de água, outra peculiaridade da planta exótica, segundo o professor, reside no fato de que ela pode durar mais de 30 anos e alcançar até três metros de altura em um vaso. O que significa dizer que quanto mais velha e maior, a rosa do deserto fica com caudex mais desenvolvido.
Embora seja uma planta ornamental, relativamente nova no mercado, a rosa do deserto é 5ª mais comercializada no Brasil, resultado que aquece o setor, que cresce a cada ano. Conforme números do Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor), só em 2018 a cadeia produtiva de flores movimentou R$ 10,2 bilhões e obteve participação no Produto Interno Bruto (PIB), com R$ 4,5 bilhões de reais. Ricardo Faria acrescenta que o setor da floricultura cresce de 8 a 10% ao ano, mesmo nesse período de crise econômica que o país atravessa.
Doutorando Guilherme Cito e professor Ricardo Faria, do Departamento de Agronomia (CCA)
Pioneirismo – Cientificamente, porém, pouco se sabe sobre o cultivo da rosa do deserto. Ainda conforme informações do professor Ricardo Faria, na literatura científica da área são escassas as pesquisas sobre cultivo e manutenção da flor, a maioria é de botânica. O professor conta que o produtor da região se baseou em dados empíricos para o cultivo, quase sem apoio em pesquisas científicas, como é o caso de outros tipos de culturas, como gérberas, violetas e orquídeas. A dificuldade reside na escassez de dados e informações científicas até na internet.
Por isso, as pesquisas da UEL trazem resultados pioneiros para manejo, redução de custo e qualidade da planta, visando melhorias no processo de produtividade, com melhor custo benefício. “Nós sempre precisamos de temas para pesquisar, de problemas que são regionais e do cotidiano. Assim usamos o dinheiro público e o conhecimento para resolver problemas mais específicos”, diz Ricardo Faria, que ainda questiona: por que estudar a tulipa se isso não é produto da região? “Vamos estudar o que temos por aqui”, defende.
Nessa tentativa de aproximação entre universidade e comunidade, as pesquisas se iniciaram em 2011 no Laboratório de Fitotecnia. Estudantes de graduação, mestrado e doutorado desenvolveram estudos em cinco frentes: germinação, substrato, irrigação, nutrição e clonagem. Foram publicados até o momento sete estudos em revistas nacionais e internacionais de renome, de países como Austrália e Argentina.
Um exemplo são os estudos do estudante Guilherme Cito, hoje doutorando do programa de pós-graduação em Agronomia, que desenvolveu na época do mestrado pesquisas acerca do manejo e nutrição da planta. É a pesquisa intitulada “Substrato e fertilizações no crescimento inicial de rosa do deserto”, cujo objetivo foi testar dois tipos de substratos com quantidades diferentes de nitrogênio durante o período de um ano – tempo de maturação da semente até a primeira floração. Ele conta que o experimento trouxe resultados úteis sobre o comportamento da rosa do deserto durante o período de análise.
Referência em pesquisa
Ricardo afirma que os estudos publicados são de grande contribuição para a comunidade científica, mas reconhece que essa não é a linguagem do produtor, por isso considera que o retorno direto a ele, mostrando o que é efetivo ou não, é de grande importância. “Os resultados de todas as pesquisas são tanto para eles, quanto para nós, porque geram dados importantes e úteis. Essa é uma das atribuições da universidade. As publicações da UEL agora são referência. E depende do produtor de decidir como irá usar os dados obtidos em cada um dos estudos desenvolvidos”, explica.
Ricardo Faria explica que agora os estudos científicos precisam ser confirmados na prática. Os trabalhos da Universidade foram feitos em condições controladas nas estufas e no Laboratório e as pesquisa mais recentes começaram a ser desenvolvidas no próprio ambiente do produtor para confirmarem a efetividade da aplicação.
Ele defende ainda a introdução do cultivo de plantas ornamentais na agricultura familiar, como alternativa rentável de cultivo. É o caso do produtor Sandro Takemura, considerado o maior do país, com produção de 1 milhão de plantas por ano. Ele vende no atacado para todas as regiões do país. “Dá ponta de cima à ponta de baixo do Brasil”, brinca o produtor, que conta ainda que já começaram as exportações para países do MERCOSUL.
A produção começou faz 11 anos. Ele conta que no início foi por curiosidade. Foram três anos de testes, até que confirmou que seria possível criar cores diferentes da flor da planta. Isso ele fez por meio de hibridação, que consiste no cruzamento manual de duas plantas. Com isso, são geradas exemplares únicos, totalmente diferentes um dos outros.
A estrutura que abriga todo o processo de cultivo tem 20 mil metros quadrados. São 24 blocos de estufa, que abrigam desde mudas até plantas adultas. O espaço também conta com uma coleção de 90 mil rosas do deserto, de diferentes tamanhos, cores e caules, formada ao longo de 30 anos.
Integração – Para Sandro, o objetivo de integração com a universidade é abrir espaço para a pesquisa, para se ter bibliografia e conteúdo para ler. “Tudo vem para somar. Como não tem nada, o que vier, e conseguir descobrir, tudo é lucro”, afirma.
Como cuidar e cultivar
O produtor Sandro Takemura conta que o maior período de floração da rosa do deserto é no final dos meses de fevereiro e setembro. As flores demoram cerca de um ano para flores aparecerem, desde o plantio da semente. O período em que ela não floresce é no inverno, quando ela perde as folhas. Como é de clima quente, ela resiste até 3º graus, e não pode só ser exposta a geadas, porque a água presente no caudex congela e a planta morre. Para os interessados em cultivar a rosa do deserto em casa, o produtor da Warta dá as seguintes dicas:
Observar o substrato, que não pode acumular água, pois em excesso apodrece a raiz.
Regar sempre que o substrato estiver seco.
Fazer adubação uma vez por mês, com qualquer tipo de adubo.
Deixar a planta no sol por pelo menos seis horas por dia.