O Natal é antes de tudo e nada mais que o dia do aniversário de Jesus Cristo. Não está certo que ele tenha nascido a 25 de dezembro, existem teses e discussões a respeito, todavia, a data consolidou-se como tal.
O cristianismo enquanto religião passou por muitas transformações ao longo dos tempos. No século IV D.C. era uma religião dos povos mais pobres do Mediterrâneo até que o Imperador Constantino liberasse as práticas religiosas em Roma e, décadas depois, Teodósio I, o adotasse como religião oficial do Estado Romano. A rica Igreja Católica é uma continuação desse cristianismo oficial, distante de suas raízes populares por envolvimento com os poderosos.
As lições originais de Cristo, transcritas nos Evangelhos, propõem ou ordenam posturas de difícil assunção pelo mundo moderno em que o conforto pessoal e o enriquecimento constituem meta da maioria dos cidadãos.
Por questão de sobrevivência, boa parte das igrejas ditas evangélicas e mesmo certas correntes da católica, cuidam mais de prometer milagres e sucesso na Terra do que o paraíso no Céu. Aliás, aquelas que se veem na TV falam muito pouco dos Evangelhos. O Antigo Testamento, com seu deus guerreiro, vingador e vitorioso, é que dá suporte às pregações de inflamados pastores, não raro olvidados da serenidade com que o mestre ensinava seus seguidores.
O Cristo cujo nascimento a humanidade comemora (ou devia comemorar) é bem outro. Não fala em riqueza ou brilho social, mas em humildade e camaradagem. A propósito, foram essas suas palavras, ditas a partir do seio da plebe, que o levaram a uma das cruzes do Calvário onde Roma crucificava seus inimigos. E, nesse caso, com a indiscutível conivência ou cumplicidade de rabinos coléricos diante da pregação daquele jovem insurreto, barbudo e estranho, frente aos cânones do judaísmo, feita mesmo nas portas das sinagogas.
Neste mês, concorre com as mensagens de Cristo a inegável simpatia do velhinho marqueteiro da indústria e comércio, o sedutor Papai Noel, pois em tempos de consumo, só se pode promover fraternidade com presentes.
Nem por isso, as palavras do aniversariante devem ser esquecidas. Ao erguermos a nossa taça na ceia de Natal, saudemos também aquele que morreu na cruz por ignorar o fausto do império romano, por tentar, através de seus ensinamentos, libertar o homem do egoísmo, do desamor aos semelhantes e do desapreço à natureza, pecados capazes de tornar inviável sua existência sobre o planeta.
Jesus Guimarães é professor, bacharel em Direito, funcionário aposentado do BB e ex-prefeito de Tupã. E-mail: zuguim@uol.com.br