Estudo mostra ‘número significativo’ de febre maculosa na região

Estudo constata a presença de pessoas com diagnóstico de febre maculosa em seis dos 45 municípios da área de abrangência do Departamento Regional de Saúde (DRS-11), órgão da Secretaria de Estado da Saúde. Os dados foram obtidos por meio de notificações no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), disponibilizados no sistema Datasus, o departamento de informática do Sistema Único de Saúde do Brasil. 

A produção científica foi conduzida por alunos do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional e pelo Programa de Ciências da Saúde da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), juntamente com pesquisador Dr. Edilson Flores, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Presidente Prudente.

O médico infectologista Dr. Luiz Euribel Prestes Carneiro diz que o estudo mostrou que o primeiro paciente foi notificado em 2011, e que 2012 foi o ano com maior número de notificações: três. 
Ao todo, seis munícipios notificaram a doença: Tupi Paulista, Presidente Epitácio, Presidente Prudente, Regente Feijó, Rancharia e Iepê, sendo estes dois últimos com o maior número de casos. 

“É importante ressaltar que esses dados não são reais, uma vez que a febre maculosa é subdiagnosticada em todo o país e o número de pessoas infectadas com certeza é maior que os dos dados oficiais”, comenta o médico. 

Número significativo

Em Rancharia foram seis casos, em Ipê dois e nos demais municípios um em cada, totalizando 12 casos, de 2011 a 2022. Portanto, em 12 anos. O número que pode parecer baixo, na verdade é muito significativo e preocupante, pela possibilidade de multiplicação e expansão da doença, de acordo com Euribel. 

Há que se considerar ainda, conforme os autores do estudo, pessoas que tiveram febre maculosa com sinais fracos ou moderados e que se quer procuram pelos serviços de saúde; e os com sintomas fortes, que buscaram atendimento médico, mas a doença não foi diagnosticada. Portanto, ficando fora dos registros oficiais. São dados que requerem a atenção de políticas públicas de ação preventiva.

Dr. Euribel explica que a febre maculosa é uma zoonose transmitida às pessoas e animais por diferentes espécies de carrapato do gênero Amblyommas. Vetor que é mais conhecido como carrapato estrela. 

“No Brasil o carrapato contaminado carrega a bactéria Rickettsia que, com a sua picada, a introduz no organismo humano, que passa a se multiplicar rapidamente. É a principal doença zoonótica transmitida por carrapatos. Embora existam muitos outros animais que sejam hospedeiros para o carrapato estrela, as capivaras são as mais importantes”, comenta, para orientar as pessoas para que evitem interações com as capivaras que, inclusive, circulam em áreas urbanas.

Problema de diagnóstico

Conforme o Dr. Euribel, um dos grandes problemas da febre maculosa no Brasil é o subdiagnóstico ou falta de diagnostico, como o que aconteceu recentemente em Campinas, onde o diagnóstico tardio levou a morte dos pacientes.  

Explica que a febre maculosa é uma síndrome febril e pode ser facilmente confundida com outras doenças como dengue, gripe, leptospirose, meningite meningocócica e muitas outras que podem retardar o diagnóstico. “Os principais sintomas são febre alta de início súbito, dor de cabeça, dor no corpo, náuseas, vômitos, diarreia, falta de apetite, cansaço, fadiga, prostração que se caracteriza por mal estar generalizado e que pode evoluir com manchas vermelhas pelo corpo”, frisa.

“Com o passar do tempo essas manchas vermelhas podem se tornar salientes e semelhantes a picadas de pulgas, distribuídas por todo o corpo, incluindo a palma das mãos e plantas dos pés. O aparecimento de manchas indica um sinal claro da gravidade da doença que pode evoluir com comprometimento da coagulação sanguínea e sangramento generalizado. A febre maculosa é uma doença com taxa de letalidade que varia entre 30 a 50%, podendo ser maior quando não diagnosticada precocemente”, afirma para dizer que conhecer o histórico epidemiológico do paciente é de extrema importância, pois pode fornecer a primeira e muitas vezes a única informação para diagnóstico oportuno e tratamento eficaz.

Região vulnerável

Sobre a doença no Oeste Paulista, ele cita que a região possui grandes lagos artificiais, rios, extratos florestais e clima tropical, portanto, apresenta grande vulnerabilidade para doenças transmitidas por vetores, como a febre maculosa, dengue, leishmaniose visceral, leishmaniose cutânea, leptospirose e hantavirose. 

“Em 2022, no estado de São Paulo houve a morte de um veterinário onde mais uma vez o diagnóstico não foi feito a tempo, com grande repercussão entre a classe profissional. Além dos sintomas, médicos e moradores do oeste paulista devem ficar atentos para a história recente de contato com animais silvestres ou visitas a áreas de risco”, pontua.

O médico infectologista diz que uma vez diagnosticada precocemente, existem antibióticos eficazes no tratamento da doença e que salvam vidas. 

Fonte: portalprudentino