Com a irmã Mary, a cantora que tinha 80 anos viveu a carreira de mais de 70 anos
Foi enterrado na manhã desta sexta-feira (26), em Paraguaçu Paulista (SP), o corpo da cantora Marilene, da dupla As Galvão, que morreu na quarta-feira (24) aos 80 anos em um hospital em SP.
O enterro ocorreu no fim desta manhã por volta das 11h no cemitério de Sapezal, distrito de Paraguaçu Paulista, onde Marilene, nascida em Palmital, e a irmã mais velha Mary, nascida em Ourinhos, passaram a infância e começaram a cantar.
No local, foi criado um memorial que conta a história da carreira de mais de 70 anos das irmãs. A dupla foi pioneira e abriu espaço para as mulheres na música sertaneja de raiz, até então dominada por cantores e duplas masculinas.
Marilene sofria de mal de Alzheimer e morreu no Hospital Professora Lydia Storópoli, onde estava internada. A causa da morte dela não foi divulgada.
As Galvão
Ao longo da carreira, a dupla lançou 80 discos. O fim da dupla foi anunciado por Mary Galvão em entrevista a André Piunti, publicada no YouTube em 19 de junho de 2021. O motivo do término era o avanço do Alzheimer que obrigou Marilene a se retirar de cena pela perda total de memória.
A dupla se consagrou como pioneira no universo da música caipira. As irmãs entraram no ramo como sendo as duas primeiras mulheres do cenário sertanejo, então dominado pelo elenco masculino.
Além de cantar, Mary Galvão tocava sanfona na dupla. Já Marilene Galvão tocava viola enquanto unia a voz com a da irmã em músicas como Beijinho Doce (Nhô Pai, 1945), clássico sertanejo lançado pelas Irmãs Castro, mas desde sempre associado às vozes das irmãs Galvão.
Quando entraram em cena na Rádio Club Marconi de Paraguaçu Paulista (SP), em 1947, com sete e cinco anos, respectivamente, Mary e Marilene certamente nem sonhavam em pavimentar trajetória tão longa na música sertaneja.
De rádio em rádio pelo interior paulista, as irmãs acabaram contratadas pela RCA Victor, gravadora na qual debutaram em 1955, ano em que as Galvão registraram, em disco de 78 rotações por minuto, as músicas Carinha de Anjo (Paschoal Yanuzzi e Fábio Mirhib) e Rincão Guarani (Maurício Cardozo Ocampo, Diogo Mulero Palmeira e Centorion).
Começou, naquele ano, a bem-sucedida trajetória fonográfica pavimentada pelas gravações de toadas, modas de viola e rasqueados, gêneros musicais recorrentes no universo sertanejo. As irmãs Galvão gravaram discos com regularidade até o fim da década de 1980.
A partir dos anos 1990, a discografia foi ficando cada vez mais espaçada na medida em que a dupla passava a ser cada vez mais reconhecida pelo fato de, no rastro das Irmãs Castro, Mary e Marilene terem imprimido assinatura vocal feminina na música sertaneja quando que somente os homens cantavam modas caipiras.
Essa trajetória pioneira foi celebrada em 2017, ano em que as Galvão festejaram sete décadas de carreira, com a edição do DVD “Soberanas – 70 anos ao vivo” e com o documentário “Eu e minha irmã – A trajetória das Irmãs Galvão”, dirigido por Thiago Rosente.
Fonte: G1/ Foto: Fábio Modesto/ TV TEM