Tupã e sua história indígena

A cidade de Tupã foi fundada em 1929 por um empresário pernambucano Luiz de Souza Leão em terras que foram tomadas dos índios, depois que os bugreiros da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil invadiram as aldeias, devastaram as roças, queimaram os casebres e mataram homens, mulheres e crianças. Instaurou-se um clima de guerra e de terror. Baseado em documentação da época, conta Darcy Ribeiro:

“Os Kaingang de São Paulo relataram a seus pacificadores os esforços feitos para amansar grupos de trabalhadores da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil que avançavam através de seu território. Numa dessas tentativas, um dos chefes Kaingang caminhou desarmado ao encontro de uma das turmas, levando nos braços um filho pequenino como penhor de seus propósitos de paz. Foi recebido com uma fuzilaria, embora gesticulasse indicando a criança e mostrando que não trazia armas. Ainda assim, repetiu-se a descarga e um tiro prostrou a criança quando ele se retirava”.  

Foi aí que a índia Vanuire, levada pelo SPI do Paraná a São Paulo, serviu de intérprete falando e cantando na língua Kaingang. Conta-se que ela subia num tronco de jequitibá com dez metros de altura, onde permanecia do nascer do dia ao cair da tarde, entoando canções em favor da paz. Desta forma, com a música, ela contribuiu para cessar as hostilidades e no dia 19 de março de 1912 foi assinado uma espécie de armistício entre os Kaingang e os invasores de seus territórios.

Os Kaingang e o Museu

As terras Kaingang foram, então, integradas ao sistema legislativo nacional sob a forma de propriedades particulares. O senador Luís Piza, que nunca colocou os pés nelas, registrou-as como suas, vendendo-as por alto preço.

A pacificação representava para o senador uma das mais fabulosas especulações: terras que comprara a preço inferior a dez cruzeiros o alqueire, após a confraternização com os índios, passaram a valer cem cruzeiros, cento e cinquenta e mais tarde, mil e até dez mil cruzeiros” – escreveu Darcy Ribeiro em seu livro “Os Índios e a Civilização”.

A índia Vanuire, que contribuiu para o fim do conflito armado e das matanças contra os índios, morreu em 1918, na aldeia Kaingang de Icatu, na região de Araçatuba, depois de ter contribuído, na visão dos índios, para pacificar os “brancos”. Foi por isso que a cidade de Tupã escolheu o seu nome para denominar o museu histórico.

Por José Ribamar Bessa Freire

Kaingangs

Os cainganguesKainguangskaingangkanhgágguainás,[1]bugrescoroadosbotocudos,[2]camés ou xoclengues[3] são um povo  (um grupo linguístico de povos indígenas do Brasil). Sua língua, a língua caingangue, pertence à família linguística jê, a qual, por sua vez, pertence ao tronco linguísticomacro-jê. Sua cultura desenvolveu-se à sombra dos pinheirais (Araucaria brasiliensis). Há pelo menos dois séculos, sua extensão territorial compreende a zona entre o Rio Tietê (São Paulo) e o rio Ijuí (nordeste do Rio Grande do Sul). No século XIX, seus domínios se estendiam para oeste, até San Pedro, na província argentina de Misiones.

Fonte: wikiwand