Especialistas estão há 7 anos analisando os azeites brasileiros
Brasil produz azeites de oliva com padrão internacional de qualidade. Essa é uma das constatações de pesquisadores, que há sete anos analisam a composição química do produto brasileiro. Os cientistas caracterizaram os óleos e montaram um painel sensorial com um grupo de especialistas para avaliar o produto sensorialmente, considerando aparência, aroma e sabor, entre outros critérios. O resultado mostrou que a composição em bioativos e voláteis de azeites de oliva virgem de diferentes variedades de oliveira atende aos parâmetros da legislação nacional e internacional.
“Geramos uma série histórica, com informações inéditas, que contribui para melhoria e formulação de políticas públicas voltadas para o estabelecimento de um marco regulatório para o produto, com objetivo de fortalecer a olivicultura no País”, conta a pesquisadora da Embrapa Adélia Machado.
Esse trabalho, feito em parceria entre a Embrapa e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ganhou reforço importante com a criação do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Olivicultura e do Azeite Brasileiros (INCT OABras). A instituição investirá R$ 6 milhões para criar soluções que aumentem a produtividade das oliveiras e a qualidade do azeite de oliva brasileiro.
Produção de azeites de oliva no Brasil
A produção de azeitonas e azeite de oliva no Brasil vem crescendo nos últimos anos, com plantios comerciais no Sul e Sudeste do País. Hoje, o Brasil é o terceiro maior importador mundial de azeite de oliva, atrás dos Estados Unidos e da União Europeia.
O azeite brasileiro tem qualidade reconhecida por prêmios internacionais conquistados nos últimos anos, mas a produção local ainda é incipiente, com 503 toneladas em 2022, o que representa 0,24% do consumo nacional. O Rio Grande do Sul e a região da Serra da Mantiqueira têm os maiores volumes de produção, em razão dos aspectos favoráveis de clima e relevo.
Porém a cadeia ainda apresenta muitos desafios, de acordo com a cientista da Embrapa. “O conhecimento gerado a respeito das variedades cultivadas no Brasil contribuiu para a caracterização de um produto de elevado valor comercial e de grande interesse pelos aspectos nutricionais e de benefícios à saúde”, aponta Adélia. Nos últimos anos, ela coordenou projetos para caracterização do Padrão de Identidade e Qualidade (PIQ) de azeites de oliva produzidos nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.
O INCT OABras é composto por seis áreas de pesquisa e desenvolvimento: sistema de produção; fitopatologia; química e metabolômica; agroindustrialização e produção de azeite de oliva; análise sensorial e estudos do consumidor; coprodutos do aproveitamento do bagaço de oliva e de folhas provenientes da poda.
Mapa de aromas do azeite brasileiro
O azeite extra virgem tem um aroma complexo, contendo centenas de substâncias voláteis. Seu aroma está relacionado com a variedade genética da oliveira, o solo e o clima onde é cultivada e as condições de extração e armazenagem do azeite de oliva, como aponta o pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos Humberto Bizzo, que realizou uma capacitação como Cientista Visitante no grupo de Química de Alimentos do Departamento de Ciência e Tecnologia do Fármaco da Università degli Studi di Torino, em Turim, Itália, para a aplicação da técnica de cromatografia multidimensional abrangente na análise dos voláteis (aromas) dos azeites brasileiros.
Vinte e sete azeites brasileiros, 15 produzidos no Rio Grande do Sul e 12 na Serra da Mantiqueira, tiveram seus voláteis amostrados por microextração em fase sólida e analisados por cromatografia gasosa multidimensional abrangente acoplada à espectrometria de massas. Os resultados preliminares indicam que a técnica de cromatografia multidimensional abrangente constitui uma importante ferramenta para a caracterização dos azeites brasileiros, cuja aplicação permitiu o estabelecimento de marcadores químicos para processos de indicação de origem e ocorrência de adulteração.
Fonte: band/agro