Há oito anos Cristiane Ventura descobriu que sua filha percebia o mundo de um modo diferente das outras crianças. A pequena e sorridente Tarsila Maria nasceu com a síndrome Charge e, entre outras características, tem surdez profunda e severa. Naquele momento, Cristiane e seu marido, José Carvalho Júnior, começaram a conhecer um universo completamente novo, muito além das palavras e dos sons na convivência com a menina.
“Naquele momento inicial minha preocupação não era nem como ela iria enfrentar o mundo, mas como o mundo iria receber ela. Além disso, outra grande preocupação era como seria nossa comunicação com a Tarsila. Não tínhamos nenhum conhecimento sobre surdez, foi a descoberta de um mundo novo”, lembra.
A saída encontrada para Cristiane e o marido foi buscar apoio em grupos de outros pais que também tinham filhos surdos. “Conhecemos várias histórias de outras famílias. Surdos crianças, adolescentes e adultos com vidas completamente normais”, conta.
Desde então, os pais da menina se dedicam completamente com objetivo de proporcionar uma boa educação e qualidade de vida para a pequena. “A gente nunca pensou que seria fácil, mas também nunca pensamos que a evolução dela seria diferente do que é hoje. Decidimos investir, mas a gente sabe que a realidade não é a mesma para todo mundo. Sabemos que muitas famílias têm a intenção, mas não têm as condições”, lamenta.
Futuro
Tarsila Maria é hoje uma garota cheia de segurança, comunicativa e que sonha em ser dentista. “No começo, muitas pessoas vinham com aquele sentimento de pena e a gente sempre tirou isso da nossa vista. Não queremos pensar assim e também não queremos que as pessoas pensem dessa forma. Tenho dois filhos, uma surda e um ouvinte. Minha preocupação hoje com o futuro deles é a mesma. São meus filhos e cada com sua necessidade”, conta a mãe.
Dia Nacional do Surdo
O mundo silencioso da pequena Tarsila é também a realidade de outras 9,7 milhões de pessoas no Brasil, segundo o Censo de 2010 realizado pelo IBGE. Dessas, 2,1 milhões apresentam deficiência auditiva severa, como a dela. Apesar de avanços, os surdos brasileiros ainda enfrentam grandes barreiras de acessibilidade.
Com objetivo de comemorar as conquistas dessa comunidade, é celebrado no dia 26 de setembro o Dia Nacional do Surdo. A data foi criada em 2008 devido ao aniversário da fundação do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) e busca promover reflexões sobre questões de acessibilidade e de garantia do direito à cidadania e discutir a construção de políticas públicas voltadas às necessidades e demandas dessa parcela da população.
Cristiane Ventura explica que a data é fundamental para que outras pessoas tomem conhecimento sobre a importância do tema e da necessidade de abrir mais espaços. “O surdo precisa ser compreendido. É preciso entender que o surdo tem força para contribuir com a sociedade e tem direitos como qualquer outro cidadão. Esses direitos, por muito tempo, foram negados e, embora eles estejam sendo ampliados agora, o surdo ainda precisa de muito mais espaço para mostrar seu valor à sociedade”, esclarece.