CRÔNICAS & OPINIÕES – Jesus Guimarães

Ao longo da história são recorrentes as decisões pouco pragmáticas das esquerdas que, agarradas a seus preceitos ideológicos, deles não abrem dedo sequer quando se mostra imperioso somar forças para combater um inimigo comum.
Desde os primórdios do século passado essa questão era considerada um óbice ao avanço das forças progressistas. Políticos de esquerda em suas autocríticas alertavam com sólidos argumentos as organizações de base para que desprezassem detalhes e priorizassem os verdadeiros objetivos.
Contudo, essa doença parece incurável, pois deriva com certeza do acirrado respeito dessas forças aos fundamentos de suas doutrinas. Apegam-se a seus sonhos e com eles envolvem e limitam suas estratégias de luta, mantendo seus rumos nem que eles sejam o caminho mais curto para o precipício.
Desta vez parece não ser diferente. O candidato capaz de peitar de fato o neoliberalismo brasileiro seria Lula, que justamente por isso está condenado e preso. Não é um político preso, mas, incontestavelmente, um preso político, vez que foi trancafiado para não participar do pleito eleitoral e dele não participará, sequer pisará nos palanques.
Considerados os nomes ditos presidenciáveis que ora se tem, a menos que os virtuais candidatos de esquerda se alinhem somando em um mesmo projeto, ainda para o primeiro turno, dificilmente escaparemos de um segundo com dois candidatos da direita: ao que tudo indica o extremista Jair Bolsonaro e o neoliberal Geraldo Alckmin.
Diante desse cenário, a banda consciente desta nação ficará sem escolha a não ser que decida votar em Alckmin para evitar um arremedo de Hitler na Presidência da República. Os eventuais eleitores de Ciro Gomes, Fernando Haddad, Roberto Requião, Manuela D’Ávila ou Guilherme Boulos, dariam um voto útil ao dissimulado ex-governador paulista? Afinal, como tem demonstrado, é inimigo do servidor público, privatista por convicção, católico conservador, senão reacionário, próximo da Opus Dei, portanto contrário a qualquer lei favorável ao avanço dos costumes e da moral; como todo tucano, é avesso às causas populares e ao Estado voltado ao Bem Estar Social. Será nesse perfil que votaremos a fim de salvar o País de um provável neonazismo tupiniquim?
Sem dúvida, vivemos um momento crucial da nossa história. Podemos retomar a consolidação da social-democracia no Brasil, voltar a gerar empregos, a investir em educação e saúde, assegurar a aposentadoria dos trabalhadores, preservar nossas reservas minerais, em especial o Pré-Sal, resgatar a consciência da obrigação de defender com intransigência as riquezas nacionais OU embarcar de vez na furada canoa neoliberal que até agora afundou todo  país, latino americano ou europeu, que a tomaram como modelo para conduzir sua economia, como exemplo recente a Argentina.
Cabe aos partidos deveras democratas e nacionalistas impedir nas urnas que o mal se consume de vez. Composição já para chegar a um denominador comum, a uma candidatura única, que mereça a confiança da maioria dos brasileiros.
É a chance que resta para frustrar na derradeira hora os planos funestos do capitalismo internacional. Se assim não for, só daqui a vinte ou trinta anos.
Infelizmente.
Jesus Guimarães é professor, bacharel em Direito, funcionário aposentado do BB e ex-prefeito de Tupã. E-mail: zuguim@uol.com.br